‘Deus, em primeiro lugar, me deu uma nova oportunidade para viver e cuidar da minha família’, diz policial militar que sobreviveu a tiros disparados por CAC


Soldado Fábio Hatschbach Capuano foi atingido na cabeça e na mão pelos disparos feitos por um motorista que reagiu à apreensão de seu carro com licenciamento vencido durante uma blitz, em Iepê (SP). Em entrevista exclusiva ao g1, o PM agradeceu ao amigo que o salvou na ocasião. Soldado da Polícia Militar, Fábio Hatschbach Capuano, sobreviveu a tiros na cabeça e na mão, em Iepê (SP)
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O soldado da Polícia Militar Fábio Hatschbach Capuano, de 35 anos, relatou, em entrevista exclusiva ao g1, como foram os momentos em foi atingido por dois disparos de arma de fogo, na cabeça e na mão, durante o ataque de um homem que teve o seu carro apreendido durante uma blitz de trânsito, no dia 8 de maio, em Iepê (SP). Na ocasião, o companheiro de Capuano na fiscalização, o cabo Fábio Vieira do Nascimento, de 45 anos, conseguiu reagir rapidamente para conter o ataque do mecânico Fernando Paiano Gerônimo, que possuía registro legal de arma de fogo junto ao Exército como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), também foi atingido por disparos feitos em legítima defesa e morreu.
‘Se não fosse ele, não estaria vivo hoje’
Capuano enalteceu a relação profissional que possui com Vieira e citou ao g1 que, “se não fosse ele, não estaria vivo hoje”.
“[Temos] relação de profissionais, [ele é um] grande profissional. Ele [Vieira] me protegeu, se não fosse ele, não estaria vivo hoje, somos parceiros de trabalho”, pontuou Capuano.
Durante a fiscalização de outra motocicleta, no momento em que os disparos aconteceram, o PM mencionou que não teve tempo de pensar, pois foi “imediata a ação do civil” que o atacou.
Quando havia sido abordado anteriormente, ainda conforme Fábio Capuano, o motorista “não demonstrava nenhum sinal de que poderia ter tal atitude”.
O sobrevivente, que trabalha na Polícia Militar há cerca de 10 anos, ainda citou ao g1 que se mudou para o interior paulista com o objetivo de exercer as atividades mais “próximo da família”, para “cuidar deles”.
Imagem de câmera de segurança mostra o momento em que homem atira contra policiais militares em Iepê (SP)
Câmera de segurança
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Recuperação
Sobre a recuperação médica, o militar ressaltou ao g1 que ainda está em tratamento, sendo acompanhado por especialistas, e já passou por cirurgia.
Apesar disso, ele ainda não tem uma data prevista para retomar às atividades profissionais na PM.
“Deus, em primeiro lugar, me deu uma nova oportunidade para viver e cuidar da minha família. Tenho dois filhos, que dependem de mim, e minha esposa, que me apoiou e esteve sempre ao meu lado cuidando de mim. Não desejo isso a ninguém e jamais pensei que iria passar por isso. Agradeço ao meu parceiro, Cabo Vieira, que me salvou e me protegeu. Grande profissional e serei grato a minha vida toda por ele”, concluiu Capuano, que na entrevista ao g1 foi acompanhado de sua advogada, Joice Vanessa dos Santos.
Soldado da Polícia Militar, Fábio Hatschbach Capuano, sobreviveu a tiros na cabeça e na mão, em Iepê (SP)
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Inquérito policial
O delegado Mário Miranda Silva informou ao g1, nesta quinta-feira (22), que o inquérito policial, instaurado pelo delegado Carlos Henrique Fernandes Gasques para investigar o caso em Iepê, “ainda não foi encerrado”.
“Estamos aguardando alguns laudos e respostas a ofícios. Somente ao final, a autoridade policial responsável emitirá o relatório final com suas considerações sobre o caso, especialmente sobre a motivação e legítima defesa”, explicou Miranda.
Miranda ainda pontuou ao g1 que os laudos necroscópico e de perícia, realizada no local do crime, já foram recebidos pela Polícia Civil. Conforme o delegado, a polícia aguarda o laudo do Instituto Médico Legal (IML) feito com o policial militar Capuano, pois ele “passou por cirurgia”, e o laudo “referente às imagens de câmeras [que flagraram o crime]”.
Reação rápida
O cabo Fábio Vieira do Nascimento, também em entrevista exclusiva ao g1, contou sobre a rápida reação que teve para conter o ataque “inesperado” durante a fiscalização de trânsito.
“Posso falar que, no momento, foi tudo muito automático. Na hora em que eu escutei o disparo e ouvi meu parceiro gritando que tinha sido atingido, a primeira reação minha foi me abrigar, para depois conseguir repelir a injusta agressão. Após ter conseguido cessar a agressão, foi que eu consegui voltar até a viatura, pegar meu parceiro, colocá-lo no banco do passageiro e socorrê-lo até o hospital”, relatou Vieira.
Cabo Fábio Vieira do Nascimento reagiu rapidamente e conseguiu salvar o companheiro de trabalho durante a fiscalização, em Iepê (SP)
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O cabo ainda pontuou que, no momento da fiscalização do carro, o mecânico Fernando Paiano Gerônimo teria ficado “um pouco indignado por ter o veículo dele guinchado, porque já estava há alguns anos com o licenciamento atrasado”, mas enfatizou que o homem não havia mencionado nada sobre voltar até o local.
“Ele foi liberado e foi embora a pé para a casa dele. Ele não falou que ia voltar e nem fazer nada. Foi inesperado, a gente estava aguardando o guincho chegar para remover o veículo até o pátio”, acrescentou ao g1.
O policial militar ainda explicou que foi a primeira experiência profissional dele envolvendo uma ação “desta forma”.
“Poderíamos, tanto eu quanto o meu parceiro, não estar aqui para estar contando essa história. Fica marcado, porque é algo inesperado, a cidade é pequena. Aqui foi a primeira vez que aconteceu, da forma como aconteceu. Eu e meu parceiro não queríamos este resultado final, porém, para salvaguardar as nossas vidas, não teve outro desfecho. Foi o único jeito de a gente se defender”, concluiu Vieira ao g1.
Homem com registro de CAC morre após se envolver em troca de tiros com policiais, em Iepê (SP)
O caso
O mecânico Fernando Paiano Gerônimo morreu na madrugada do dia 8 de maio deste ano, após trocar tiros com policiais militares, em Iepê.
Segundo a Polícia Civil, a vítima teve o carro apreendido por falta de licenciamento, durante uma blitz de trânsito, e atirou contra os agentes, que revidaram. A câmera de segurança de um estabelecimento comercial flagrou o momento em que o homem aproxima-se a pé e atira contra os militares (veja o vídeo acima). O dono do veículo possuía registro legal da arma de fogo junto ao Exército como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador, condição também identificada pela sigla CAC.
O soldado da Polícia Militar Fábio Hatschbach Capuano, de 35 anos, foi atingido na cabeça e na mão pelo motorista.
Conforme o Boletim de Ocorrência, dois policiais abordaram um carro durante um bloqueio de trânsito na Rua São Paulo, na área urbana. Ao consultar no sistema, os agentes constataram que o licenciamento do veículo estava vencido desde o ano de 2019 e, portanto, apreenderam o carro.
Enquanto aguardavam a chegada de um guincho para recolher o automóvel, aproximadamente 1h30 depois da abordagem inicial, o motorista aproximou-se a pé do local da blitz e efetuou um disparo de arma de fogo contra um dos policiais, que fiscalizava uma motocicleta no momento.
O mecânico Fernando Paiano Gerônimo morreu após alvejar o policial militar, em Iepê (SP)
Reprodução/Facebook
O cabo Fábio Vieira do Nascimento, que estava dentro da viatura preenchendo um relatório no momento, disse não ter visto quando o homem aproximou-se do local, porém, ouviu o “estampido” do tiro.
Em seguida, o policial atingido disse algo para o cabo, que avistou o parceiro ferido por um tiro. O condutor do carro apreendido começou a atirar contra o cabo, que revidou os disparos.
Ainda conforme o boletim, em determinado momento, o homem parou de atirar. Ao se aproximar, o policial avistou que o motorista havia sido atingido e “neutralizado”. Pouco tempo depois, a esposa do homem baleado chegou ao local e avistou a cena.
De acordo com o delegado responsável pelas investigações sobre o caso, Carlos Henrique Fernandes Gasques, a vítima chegou a ser socorrida e levada ao Hospital Municipal de Iepê, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. A arma utilizada pelo motorista, uma pistola de calibre 9mm, foi apreendida.
Assim como também foram apreendidas as duas pistolas de calibre .40 que eram utilizadas pelos policiais militares.
A Polícia Civil registrou o caso como homicídio decorrente de oposição à intervenção policial, em relação à morte de Fernando Paiano Gerônimo, e como dupla tentativa de homicídio qualificado, por motivo fútil e por ser contra os policiais militares, quanto aos disparos feitos contra o cabo e o soldado.
No tocante à conduta do cabo Fábio Vieira do Nascimento, o delegado Carlos Henrique Fernandes Gasques concluiu que “sua atitude está albergada por verossímil descriminante de legítima defesa à injusta agressão contra sua vida e do soldado Capuano, ao repelir a conduta delituosa”. Com efeito, ele reconheceu provisoriamente a excludente de ilicitude, ressaltando também a sua apresentação espontânea.
O delegado ainda salientou que o cabo comunicou de pronto a polícia acerca dos fatos, viabilizando o socorro ao agressor lesionado, comparecendo e prestando as informações devidas à Polícia Civil, bem como exibindo sua arma de fogo, utilizada no revide contra Fernando Paiano Gerônimo.
Imagem de câmera de segurança mostra o momento em que homem atira contra policiais militares em Iepê (SP)
Câmera de segurança
Arma com registro
De acordo com o registro policial, o homem que atacou os policiais militares portava dentro da carteira um certificado de registro de arma de fogo expedido pelo Exército Brasileiro, que engloba atividade de caça, coleção e tiro desportivo, também conhecida pela sigla CAC.
Familiares do homem apresentaram documentos e uma nota fiscal da pistola, de calibre 9 milímetros, utilizada na troca de tiros com os policiais militares que trabalhavam na fiscalização de trânsito.
Na residência do mecânico, a corporação também teve acesso a declarações técnicas de aptidão do porte de arma de fogo, bem como nota fiscal da munição e autorização para tráfego de produtos controlados.
A perícia foi acionada até o local dos disparos e um inquérito policial foi instaurado para esclarecer o caso.
Licenciamento vencido
A câmera de segurança de um estabelecimento comercial flagrou o momento do crime. As imagens mostram o homem se aproximando a pé da viatura, às 23h01, e, em seguida, sacando uma arma de fogo e atirando contra um policial. Naquele momento, outro militar, que estava sentado no banco do passageiro, com a porta aberta, conseguiu escapar.
Segundo o delegado responsável pelo caso, Carlos Henrique Fernandes Gasques, a Polícia Militar fazia uma fiscalização de trânsito, por volta das 22h30, quando o homem foi abordado e os policiais constataram que o veículo dele estava com o licenciamento vencido desde 2019.
“Foi feita a apreensão administrativa e comunicado o condutor que este veículo seria recolhido. Ele questionou a decisão do policial militar, dizendo que ‘deveria procurar outras atividades’ e que o documento vencido não era uma ‘causa suficiente’, mas o policial explicou para ele que não tinha o que fazer, ele foi embora a pé e o policial acionou o guincho e ficou aguardando o retorno do guincho”, explicou à TV Fronteira.
O delegado disse que, após cerca de uma hora e meia, quando a equipe da polícia ainda estava aguardando o guincho, o homem retornou até o local a pé.
“Segundo informações preliminares que a Polícia Civil coletou, familiares e amigos tentaram impedir que ele realizasse esta ação, mas não conseguiram, e ele veio por trás da equipe policial e deu um disparo, à queima-roupa, contra um dos policiais militares, atingindo a sua cabeça, ‘de raspão’, e um outro disparo que atingiu o seu braço e a sua mão. Este policial caiu ao solo”, detalhou o delegado.
Gasques ainda disse que, no momento dos disparos, outro policial “percebeu a ação e o barulho de estampido, se abrigou em um dos muros, ali próximo, e verbalizou para que este atirador entregasse a sua arma e colocasse as mãos no chão”.
“A verbalização não foi atendida e ele começou a efetuar disparos contra o outro PM. O outro policial revidou e um dos disparos atingiu a região da cabeça”, pontuou à TV Fronteira.
O registro de CAC foi localizado na carteira do homem e, ainda conforme o delegado, a arma, que se tratava de uma pistola, estava “regularizada”.
“Fomos até a casa dele e encontramos a nota fiscal desta arma de fogo, então, assim, juridicamente, ele poderia ter esta arma em sua casa, mas não portar consigo, como ele fez no caso”, acrescentou.
Conforme Gasques, o homem não tinha “histórico de envolvimento em ocorrências policiais ou algo do tipo”.
“Nos depoimentos dos policiais militares, quando questionado se ele havia ingerido bebida alcoólica, o condutor do veículo falou que consumiu ‘um pouco de bebida alcoólica no domingo [7], à tarde’, mas, segundo o PM, ele não apresentava sinais característicos de embriaguez. Não era um condutor que dava sinais claros de que estaria embriagado. A conduta dele, retornando após uma hora e trinta minutos, denota que ele planejou este retorno e foi consciente”, complementou à TV Fronteira.
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