Pessoas envolvidas com as festas carnavalescas foram ouvidas pela reportagem do g1 e avaliaram por que a cidade não consegue mais repetir os eventos grandiosos do passado. Desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), em 2002
Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente
Com 225.668 habitantes, a maior cidade do Oeste Paulista não tem desfile das escolas de samba há seis anos. A população de Presidente Prudente (SP) também não pode contar com os bailes de Carnaval nos clubes sociais do município há, pelo menos, oito anos.
Conforme o presidente da Associação das Escolas de Samba, Adilson Régis Silgueiro, o último desfile de Carnaval foi realizado em 2018. Ele atribui isso à falta de criatividade do Poder Público.
“O Poder Público não tem criatividade, não possui política pública voltada para prover a cultura popular, não escuta os carnavalescos e investe muito dinheiro em cargos comissionados e não sobra recursos para outros setores”, afirmou Silgueiro ao g1.
Último desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), em 2018
Reprodução/TV Fronteira
Ainda segundo o presidente da associação, “a Prefeitura alega não ter recursos para fornecer o apoio logístico necessário”. Para ele falta “visão, criatividade e competência de gestão” do Poder Executivo.
“As escolas até fariam o Carnaval, mas a estrutura do som, da arquibancada e do espaço deveria ser fornecido pela Prefeitura, que não possui recursos nem para esse mínimo necessário”, finalizou Silgueiro ao g1.
Desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), em 2002
Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente
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Já o secretário municipal de Cultura e de Turismo, Yuri Correa Reis, afirmou que, desde o início da atual gestão, as escolas de samba de Presidente Prudente não conseguiram organizar as finanças para realizar o desfile de Carnaval de forma autônoma e, devido à pandemia e “recursos financeiros escassos”, não foi possível realizá-lo.
“O modelo antigo de desfile de escolas de samba, no qual a Prefeitura custeia os desfiles, não temos condição. O orçamento da Secretaria de Cultura não comporta o modelo antigo, sendo que realizamos reunião para repensar novas formas, como blocos de rua entre outros, mas mesmo assim não conseguimos efetivar de diferentes formas, devido à falta de recursos”, reforçou o secretário ao g1.
Desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), na década de 1980
Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente
Mudanças
A Associação Prudentina de Esportes Atléticos (Apea), localizada na Avenida Coronel José Soares Marcondes, reunia mais de 2 mil pessoas em cada uma das quatro noites de seus bailes de Carnaval, porém já não realiza o evento há 17 anos.
O administrador provisório judicial, Jaime Trevisan, disse ao g1 que a última festa carnavalesca do clube foi realizada em 2007 com quatro noites de folia e duas matinês, aglomerando entre 2 mil e 2,5 mil pessoas.
Baile de Carnaval realizado na Associação Prudentina de Esportes Atléticos (Apea), em 2000
Arquivo pessoal/Apea
Em 2024, a Apea não irá realizar nenhum evento de Carnaval e Trevisan atribuiu à falta de dinheiro e público.
“A falta de dinheiro e público também, porque hoje o Carnaval está sendo nas barrancas dos rios. Até a Prefeitura de Prudente, esse ano, não vai ter Carnaval, nem de rua”, finalizou o administrador ao g1.
Baile de Carnaval realizado na Associação Prudentina de Esportes Atléticos (Apea), em 2000
Arquivo pessoal/Apea
Após 30 anos realizando bailes de Carnaval, o Ipanema Clube, localizado na Vila Centenário, já não realiza a festividade há cerca de 10 anos. O presidente do local, Paulo Sérgio Martins, relembrou ao g1 que “uma grande parte da população de Prudente passou seus carnavais” no clube.
“Os costumes vão se modificando. O pessoal que gostava de Carnaval vai envelhecendo, a moçada nova não é a mesma coisa, é completamente diferente”, afirmou Martins.
‘Carnaval no Circo’ do Ipanema Clube, em Presidente Prudente (SP)
Arquivo pessoal/Cedida
Além disso, o proprietário contou que o clube foi o primeiro da cidade a investir nos sambas enredo e realizava bailes de Carnaval com duração de cinco dias. Atualmente, o local segue suas atividades direcionado para o público da terceira idade com bailes dançantes.
“O Carnaval, infelizmente, a gente só vai ficar com saudades porque não volta mais”, finalizou Martins ao g1.
Bloco de Carnaval no baile do Ipanema Clube, em Presidente Prudente (SP)
Laercio Sabirú Custódio
Já o Tênis Clube de Presidente Prudente, localizado no Jardim Paulista, não realiza bailes de Carnaval desde 2016. Para a diretora social do local, Giovana Braga Schmitz, o estilo das festas mudou ao longo dos anos e o Carnaval de salão foi “deixado de lado”.
“O estilo de bailes de Carnaval mudou muito nos últimos anos, principalmente no quesito musical. Atualmente tem uma mistura de sertanejo, axé, funk entre outros, o que acaba levando o público mais jovem para as casas de shows, deixando de lado a tradição do carnaval de salão”, explicou Giovana ao g1.
Festa de Carnaval realizada no Tênis Clube de Presidente Prudente (SP), em 1971
Cedida/Tênis Clube
O clube não irá realizar baile de Carnaval, porém o jantar dançante, realizado nesta sexta-feira (9), será com tema carnavalesco e haverá ainda uma matinê na próxima segunda-feira (12). Ambos gratuitos para associados do local.
“O custo para produzir um baile de Carnaval é muito alto. Banda, decoração, seguranças, impostos, entre outros, acabam inviabilizando o evento”, finalizou a diretora social ao g1.
Festa de Carnaval realizada no Tênis Clube de Presidente Prudente (SP), em 2013
Cedida/Tênis Clube
Recordações
O sambista Laercio Sabirú Custódio relembrou ao g1 a época em que tocava nos bailes de Carnaval, em Presidente Prudente. Ele fundou o grupo “Sabirú e as Mulatas” em 1988 e, desde então, realiza apresentações em todo o Oeste Paulista.
“Os bailes eram muito concorridos e sempre com lotação máxima desde os pré-Carnavais, que começavam nos mês de agosto e iam até fevereiro”, afirmou o sambista.
Sambista Laercio Sabirú Custódio no baile de Carnaval do Tênis Clube de Presidente Prudente (SP)
Arquivo pessoal
Ele relatou ao g1 que está envolvido com o Carnaval há mais de 50 anos e era sempre contratado pelos clubes da cidade para tocar nos bailes.
“O Carnaval representa tudo o que eu sou”, ressaltou Sabirú.
Sambista Laercio Sabirú Custódio no baile de Carnaval do Ipanema Clube, em Presidente Prudente (SP)
Arquivo pessoal
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Além disso, o músico relembrou de um baile de Carnaval no Ipanema Clube, que contou com a presença de 3 mil pessoas, chamado “Carnaval do Circo”. O evento reuniu tantas pessoas que ele afirmou que o local ficou “intransitável”.
“O que animava bastante os carnavais eram os blocos, que tinham o particular de acomodar os amigos e bairros nos quais representavam, com isso lotavam os salões e clubes”, finalizou o sambista ao g1.
Sambista Laercio Sabirú Custódio no baile de Carnaval do Ipanema Clube, em Presidente Prudente (SP)
Arquivo pessoal
O carnavalesco João Tavares da Silva, conhecido popularmente como Fornalha, disse ao g1 que começou no Carnaval prudentino com 15 anos de idade e atualmente, 52 anos depois, é membro da Escola de Samba Independentes da Zona Leste.
“O Carnaval representa, para mim, muitas coisas. O Carnaval me ensinou a soldar, compor, cantar e tocar instrumentos de percussão”, afirmou Fornalha.
Passista da Escola de Samba Independentes da Zona Leste, em Presidente Prudente (SP)
Arquivo pessoal/João Tavares da Silva
Entre os versos do “lamento” da escola de samba, o carnavalesco ressaltou que todos os carnavais são marcantes, seja pela beleza das alegorias ou do samba-enredo.
“O Carnaval de Presidente Prudente sempre foi o mais rico, mais elegante e mais bonito”, finalizou Fornalha ao g1.
Desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), em 2012
Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente
Desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), em 2012
Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente
Último desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), em 2018
Reprodução/TV Fronteira
Desfile das escolas de samba de Presidente Prudente (SP), na década de 1970
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Sem desfile de escolas de samba nem bailes nos salões dos clubes sociais, o que aconteceu com a celebração do Carnaval em Presidente Prudente?
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