Segunda reportagem da série especial do g1 em homenagem ao Dia do Samba mergulha no universo do samba-enredo para contar a história de Laercio Sabirú Custódio, que, desde os 14 anos, coleciona memórias afetivas na música e nas escolas de samba pelas quais passou. Sambista e intérprete machadense Laercio Sabirú Custódio inspirou-se em Oswaldo Sargentelli para criar o ‘Sabirú e as Mulatas’
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“Eu nasci com o samba, no samba me criei, do danado do samba nunca me separei […]. Quem não gosta do samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”.
Os versos de “Samba da Minha Terra”, sucesso na voz de Dorival Caymmi, em 1957, voltaram a brilhar anos depois, interpretados pelo radialista e apresentador Oswaldo Sargentelli (1924–2002) durante seu show com mulatas, no Rio de Janeiro (RJ). Décadas mais tarde, o estilo de espetáculo produzido pelo carioca serviu de inspiração para um sambista do Oeste Paulista criar o seu próprio show: o “Sabirú e as Mulatas”.
Nascido em Álvares Machado (SP) mas criado na vizinha Presidente Prudente (SP), o técnico de segurança do trabalho aposentado, Laercio Sabirú Custódio, sempre manteve uma relação afetiva com o samba. Aos 14 anos, ele já dava voz a grandes sucessos do gênero musical, incluindo Jorge Ben Jor e Wilson Simonal.
Desde os 14 anos, Sabirú já dava voz a grandes sucessos do samba
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Mas foi uma oportunidade para atuar como passista na escola de samba Bico de Ouro, na Capital da Alta Sorocabana, que ditou o rumo de sua vida. “A partir daí, não parei mais”, relembrou ao g1.
Atraído pela atmosfera carnavalesca, em 1979, Sabirú tornou-se presidente da escola de samba Unidos do Jardim Paulista e, na sequência, da União da Vila Jardim Paulista, ambas em Presidente Prudente. Já na década de 90, na capital de São Paulo (SP), presidiu a escola Independente da Zona Leste e deu voz à Real Grandeza, além de testemunhar a conquista do título de campeã por todas elas.
“Minhas referências do samba vêm por meio das escolas de samba. Eu fui presidente de quase todas as escolas de Presidente Prudente, foi um desafio na época e, por sorte e dedicação, eu consegui ser campeão por onde eu passei. Isso me marcou. Tudo o que aprendi no eixo Rio-São Paulo, apliquei em Presidente Prudente, e deu certo. Até hoje, procuro me aprimorar no samba, aprender e ver cada vez mais”, confessou à reportagem.
Intérprete já passou por várias escolas de samba de Presidente Prudente (SP) e de São Paulo (SP)
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‘Sabirú e as Mulatas’ 💃
Inspirado no sucesso que o show “Oswaldo Sargentelli e as Mulatas do Oba-Oba” fez entre os anos de 1980 e 1990, na capital carioca e até mesmo no exterior, o machadense quis trazer esse universo caricato de ritmos para o interior paulista.
Desde 1988, o grupo, formado por 12 pessoas, entre músicos e dançarinas, se apresenta em toda a região de Presidente Prudente, levando a alegria contagiante do samba para casas de shows, clubes, formaturas, aniversários e casamentos.
Grupo ‘Sabirú e as Mulatas’ faz apresentações em toda a região há 35 anos
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Movido pela força do samba-enredo de Aroldo Melodia, Roberto Ribeiro, Jamelão e Neguinho da Beija-Flor, o grupo também marcou presença em diversas cidades do Estado de São Paulo, dentre elas, Bebedouro (SP), Ilha Solteira (SP) e Cajobi (SP), além da própria capital paulista, “sempre se renovando e se atualizando”.
“O samba nunca morre. Por isso eu sou sambista e procuro levar uma mensagem de otimismo, de alegria na interpretação dos meus sambas. Dá para interagir, fazer com que as pessoas que assistem aos meus shows cantem comigo, interpretem comigo”, afirmou ao g1.
Assim como a “Tatuagem”, de Nelson Cavaquinho, ou a “marca dos desenganos”, de Paulinho da Viola, o samba jamais poderá ser apagado do coração de quem já nasceu embalado pelas batidas do pandeiro, da cuíca, do ganzá e do banjo.
“O samba significa tudo para mim. O samba, na verdade, é minha vida. Eu não saberia fazer outra coisa que não fosse o samba,” confessou Sabirú.
Laercio Sabirú Custódio leva no coração o amor pelo samba-enredo desde muito jovem
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No auge de seus 67 anos, boa parte dedicados à música, o artista chegou à conclusão de que o samba de verdade é eterno. Podem passar anos, décadas, séculos ou milênios, o gênero musical que cravou suas raízes no coração dos brasileiros e abriu caminho para a alegria passar, jamais poderá ser esquecido.
“O pagode, às vezes, ele é de passagem, mas o samba, não, o samba fica. O samba fica na alma das pessoas. Pode ver que, até hoje, os sambas lançados nos primeiros anos de 1900 ainda são cantados, eles são lembrados até hoje. O samba é eterno, e é por isso que eu gosto de samba, interpreto samba e vou morrer cantando samba”, ressaltou ao g1.
E, assim, Lercio Sabirú Custódio vai desfilando pela passarela da vida.
Para o fundador do grupo ‘Sabirú e as Mulatas’, o samba é eterno
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Série especial 🥁
Nesta semana, o Portal g1 Presidente Prudente e Região publica uma série de reportagens especiais em homenagem ao Dia do Samba, comemorado em 2 de dezembro.
“Samba-raiz” faz referência à ancestralidade com que o ritmo foi firmado em terras brasileiras. Mais do que isso: recorre às memórias mais nostálgicas de artistas do Oeste Paulista que, influenciados pelos pioneiros do samba, firmaram suas raízes no gênero musical e, hoje, são referência em toda a região. “Samba-raiz” é alegria, ritmo, poesia e reflexão. É o legado que já está sendo construído por todos aqueles que compartilham o amor pelo bom e velho samba raiz.
A primeira reportagem foi ao ar nesta quarta-feira (29) e trouxe detalhes do que motivou a cantora Adriana Cavalcanti a idealizar o projeto “Mulheres no Samba”.
Já a segunda reportagem foi publicada nesta quinta-feira (30), recordando a trajetória do sambista e intérprete machadense Laercio Sabirú Custódio.
Grupo ‘Sabirú e as Mulatas’ em uma de suas primeiras formações
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