Inquérito civil instaurado pelo promotor de Justiça Marcelo Creste ressalta possíveis irregularidades observadas ao longo da contratação milionária concretizada pela Prefeitura. MP investiga contratação de empresa por mais de R$ 60 milhões para operar iluminação pública em Presidente Prudente (SP)
Reprodução/TV Fronteira
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) abriu uma investigação para apurar possíveis irregularidades envolvendo a contratação por mais de R$ 60 milhões da empresa Stylux Greentech Sistemas de Iluminação e Energia S.A., responsável pela iluminação pública de Presidente Prudente (SP).
A portaria, publicada na última sexta-feira (12), é de autoria do promotor de Justiça Marcelo Creste e ressalta três pontos a serem observados ao longo da contratação milionária concretizada pela Prefeitura.
O primeiro aborda a suposta ausência de estudo de economicidade para demonstrar a viabilidade econômica da utilização da locação ao invés da aquisição propriamente dita dos bens necessários à execução dos serviços.
“Salvo melhor juízo, este setor técnico do CAEx [Centro de Apoio Operacional à Execução] não identificou nos autos avaliação da economicidade, demonstrando que a locação se refere à opção viável e mais vantajosa à Municipalidade. A justificativa apresentada remete a economicidade pertinente à substituição do ativo de iluminação para luminárias mais eficientes, pertinentes à tecnologia LED”, reproduz o promotor na portaria de instauração do inquérito civil para apurar o caso.
Creste ainda salientou que “tal estudo realmente não existe, havendo indícios de que a modalidade escolhida é altamente lesiva ao interesse público”. Segundo a Promotoria, trata-se de um contrato de locação e não de aquisição, de modo que tudo o que a Stylux instalar pelas ruas e avenidas da cidade, não será de propriedade do Poder Executivo, e sim uma espécie de aluguel desses equipamentos.
O MPE-SP citou que a licitação nesses moldes é viável, porém, cabe a realização de estudo prévio para demonstrar se será melhor para a administração municipal alugar ou comprar as lâmpadas e os demais materiais. No edital, conforme o CAEx, além de não existir esse estudo, a Prefeitura de Presidente Prudente justifica a economicidade pela substituição da iluminação para luminárias LED.
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Outro ponto levantado pela portaria é a não previsão das quantidades necessárias dos equipamentos para a prestação dos serviços, o que, segundo o promotor, “pode abrir margem para aditivos, com reflexo na competitividade do certame”.
De acordo com o parecer técnico do MPE-SP, a estimativa de quantidades necessárias para cada um dos itens é baseada em custos unitários. Apontou, ainda, deficiências no orçamento prévio do contrato apresentado pela Prefeitura.
“Neste sentido, cumpre lembrar o que determina a Lei Federal nº 8666/93, quanto à existência de no mínimo projeto básico, contendo todos os elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, possibilitando a avaliação do custo da obra, bem como a definição dos métodos e do prazo de execução, cabendo ainda a elaboração de orçamento do custo global da obra, detalhado em planilhas que expressem a composição de todos os custos unitários”, observou o MPE-SP.
A terceira consideração, por fim, diz respeito à “deficiência de orçamento prévio”, momento em que é ressaltado o suposto agravante de que a Prefeitura de Presidente Prudente “usou dados desatualizados de seu parque de iluminação para fazer a licitação”. Além disso, segundo o parecer técnico, no edital só consta pesquisa de preços com três empresas do ramo, porém, sem dar detalhes desses produtos e da data em que foi feita.
Neste quesito, o promotor de Justiça anexou a conclusão do CAEx sobre o edital, documento que, de acordo com o setor técnico do MPE-SP, “apresenta falhas, principalmente no que se refere à ausência de elaboração de orçamento adequado”.
“No entendimento deste setor técnico do CAEx, as inadequações nos termos do edital podem incorrer em indícios de prejuízos à competitividade, dado o potencial afastamento de possíveis interessados diante da ausência de clareza nos componentes do orçamento, considerando que a planilha discrimina somente as luminárias, sem contemplar as quantidades e especificações de outros insumos, mão de obra e equipamentos que serão necessários para o desenvolvimento das atividades propostas no certame licitatório”, ressaltou.
O parecer ainda destaca que “foi juntado ao edital um mapa denominado de georreferenciamento dos postes, contudo, a impressão da folha do referente projeto não possibilita a visualização das informações constantes nesta, além de não contemplar carimbo com as informações do croqui/projeto, tais como: responsável técnico, data de elaboração do projeto, legenda, etc”.
MP investiga contratação de empresa por mais de R$ 60 milhões para operar iluminação pública em Presidente Prudente (SP)
Câmara Municipal de Presidente Prudente
Inquérito civil
Diante das supostas irregularidades observadas no processo, o promotor de Justiça considerou necessária a instauração de um inquérito civil para aprofundamento das investigações, “em especial para verificar cerco ou restrição à competitividade, prejuízo ao erário, bem como eventuais responsabilidades por esses fatos e, se presente a responsabilidade, se decorrente de culpa ou de dolo”.
Marcelo Creste solicitou, ainda, a notificação do secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, Matheus Ramos Grosso, para prestar esclarecimentos. À Câmara Municipal, foi pedida cópia integral da Comissão Especial de Investigação (CEI) aberta e que teve por objeto a iluminação pública de Presidente Prudente.
Requisitou, ainda, à Prefeitura, cópia de todos os vídeos sobre o Pregão 206/2022, em especial os gravados durante a abertura do certame, bem como os e-mails contendo questionamentos durante o processo, “que foram feitos via sistema de plataforma digital de compras”.
Licitação
No dia 6 de maio, a Prefeitura de Presidente Prudente rompeu o contrato com a empresa Ilumina, que realizava o serviço de manutenção da iluminação pública na cidade.
A licitação para a contratação de uma nova empresa foi finalizada em fevereiro deste ano, tendo como ganhadora a empresa Stylux, de São Paulo (SP). O contrato, de cerca de R$ 62 milhões, foi assinado no mesmo mês. No entanto, a vencedora da licitação assumirá os serviços no fim de maio, ficando a cargo da própria Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos a realização de possíveis reparos neste intervalo.
Posicionamento da Stylux
A reportagem também solicitou um posicionamento para a empresa Stylux, mas, até o momento desta publicação, não obteve resposta.
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