Pais são o alicerce no cotidiano de filhas que convivem com problemas congênitos. Reportagem especial conta histórias de amor entre pais e filhas
Um mundo inteiro, que cabe dentro de um abraço. Uma segurança que é sentida só de estar de braços dados. O medo de algo novo que passa apenas em estar ao lado do pai, já que com ele perto, tudo pode ser enfrentado. Essa segurança é ainda mais importante para a Ana Júlia e a Fabiana, que nasceram com problemas cognitivos.
Luís Antônio de Jesus é pai da Ana Júlia, que nasceu com a síndrome do Complexo de Vacterl, um conjunto de problemas congênitos que acarreta o atraso psicomotor.
Luís Antônio e a filha Ana Júlia convivem diariamente com muito amor e companheirismo
Reprodução/TV Fronteira
No dia a dia, a presença paterna constante é essencial para desenvolver atividades do cotidiano. Luís sabe muito bem a importância do seu papel na vida da filha.
“Desde pequenininha ela sempre foi grudada em mim. De manhã a gente levanta e enquanto minha esposa faz o café, eu vou preparando ela para poder ir para a Apae [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Presidente Prudente]. Na parte da tarde ela vai para a Unipode [União das Pessoas com Deficiência], onde trabalham a independência dela, ela vai, aprender a dobrar um lençol, a dobrar roupa, limpar a casa. No final de semana, ela vai para o escoteiro, onde é trabalhado o social e o afetivo”, relatou Luís à TV Fronteira.
Luís Antônio e a filha Ana Júlia participam do grupo de escoteiros juntos
Cedida
A Ana Júlia, de 18 anos, já passou por várias cirurgias para poder ter melhores condições de vida. Para o Luís, a filha é um milagre, já que as chances de vida dela eram baixas.
Ser pai dessa jovem para lá de especial é uma missão que ele tem muito prazer em realizar todos os dias.
“O que ela faz, que para outras crianças é uma coisa simples, mas para ela não é, para gente é uma conquista. É uma coisa que a gente sempre está alegre. Eu acho que ser pai é saber que todo filho tem uma diferença, mas a gente ama todos iguais. Tem aquele que precisa de mais suporte, mas não significa que você ama menos do que os outros, ama todos iguais, da mesma forma”, ressaltou o pai de Ana Júlia.
José Paulo e a filha Fabiana também possuem uma relação com muito companheirismo e felicidade
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Super herói e protetor
Para muitos filhos, o pai é visto como um super herói e protetor. No caso das meninas, a figura paterna também representa, na maioria das vezes, um modelo ideal de homem.
O pai, por sua vez, é capaz de fazer tudo o que for possível para ver sempre o sorriso no rosto dos filhos.
O José Paulo Boffe representa bem esse papel. Ele é pai da Fabiana, que nasceu com Síndrome de Down, autismo e deficiência intelectual. Ter a presença de José no dia a dia é sempre motivo de felicidade e aprendizado, já que ele faz questão de sempre estar ao lado da filha. Afinal, Fabiana é considerada o “xodozinho do pai”.
“Realmente a Fabiana é um xodó aqui, a gente recebeu essa benção muito grande. Quando precisa a gente está junto, com todo apoio possível, fora daqui, para as diversões, enfim. ‘Pai eu não sei fazer isso, como é que faz, me ajuda’; precisa levar para o médico: ‘o pai vai junto?’. Vai, às vezes nem se for para levar para o carro para determinado lugar”, disse José Paulo.
José Paulo faz questão de se fazer presente na vida da filha
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Aos olhos de Fabiana, José Paulo ocupa um lugar de destaque e heroísmo, assim como nos contos de fada.
“Ele é um rei, um paizão lindo. Eu gosto de viajar com ele, ir lá ver meus irmãos”, relatou a filha.
A condição da Fabiana só serviu para o crescimento do José Paulo. Normalmente, são os filhos que aprendem com os pais, mas ele afirma que o aprendizado dele é maior.
São 40 anos que dia após dia José aprende a valorizar todas as etapas da vida.
“O que a gente tem aprendido com a Fabiana é fora do comum. Porque são pessoas que entre eles, se você perceber, não tem atrito, não tem brigas, não tem discórdia, são todos amigos, como ela se refere muito na escola: ‘os meus amigos’. E realmente tem sido assim. A gente acaba aprendendo muita coisa com eles, principalmente a considerar as pessoas que estão do seu lado”, contou o pai.
Unipode em Presidente Prudente (SP)
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Unipode
Tanto a Ana Júlia quanto a Fabiana são assistidas pela União de Pessoas com Deficiências (Unipode), em Presidente Prudente (SP). No local, elas recebem atendimentos de diversos profissionais, que auxiliam no desenvolvimento.
O presidente da entidade, Lourivalter Gonçalves, explica que para que o trabalho tenha sucesso, a participação dos pais é fundamental.
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“Aqui, ter uma família que participa junto, a condição dele aqui é uma. Aquele que a família deixa ele de lado, que acaba sendo um peso para a família, nós sofremos mais aqui para atendê-los. Então a gente procura muito esse trabalho, a gente procura sempre esse trabalho de unificar a entidade com a família, porque facilita o trabalho, facilita na adaptação deles, na recuperação”, explicou o presidente à TV Fronteira.
De acordo com o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (Condef), Presidente Prudente possui atualmente cerca de 20 mil pessoas com algum tipo de deficiência.
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Amor sem limites
Independente das condições, todos os filhos são especiais para os pais e o amor entre eles não tem limites.
“Ser pai é você ser responsável. É você procurar dar tudo de si para o que é chamado família. A figura do pai realmente é a base, é o sustento de uma casa ou pelo menos deveria ser. Quando falta o pai, a mãe acaba assumindo toda essa responsabilidade. Então, o pai, na minha opinião, ele tem que acabar adquirindo essa responsabilidade da educação, do sustento da família, da orientação, para que [o filho] não sofra tanto na vida, como muitos sofrem por aí afora”, disse José Paulo Boffe emocionado.
Todo esse sentimento é absorvido e expressado em pequenas e valiosas palavras.
“Pai, eu te amo”, disse Fabiana.
José Paulo e a filha Fabiana
Reprodução/TV Fronteira
“Te amo”, disse Ana Júlia para o pai Luís Antônio.
Ana Júlia e o pai Luís Antônio
Reprodução/TV Fronteira
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