O silêncio como forma de abuso


Há uma sabedoria popular que diz que o silêncio vale ouro. Em termos simples, isso significaria que existem situações em que é melhor não expressar o que se pensa ou sente como forma de minimizar possíveis conflitos. No entanto, há uma linha divisória entre o que é saudável e quando isso se torna abuso. Sim, porque o excesso de silêncio, quando repetitivo, é tóxico em uma relação. Afinal, é conversando que a gente se entende.
Dito assim, parece simples, mas não é sempre que isso acontece em um relacionamento.
Numa relação a dois, as divergências de ponto de vistas são comuns. No entanto, muitas vezes, um dos parceiros pode adotar uma postura de silêncio, justificada como o próprio jeito de ser. Só que é um jeito de ser que gera consequências negativas, como ansiedade e decepção, por parte da vítima, que sofre com essa forma de relacionar, mesmo sinalizando ao outro o mal-estar que isso causa.
Quando falamos em abuso em um relacionamento, a violência física é a primeira que vem à mente, seguida da violência psicológica, porém, esta última é frequentemente associada a agressões verbais, esquecendo que nessas condições o silêncio é uma forma de abuso, usado de forma manipuladora com o intuito de controlar, ferir ou demonstrar poder sobre o outro. O silêncio, nesses casos, pode ser utilizado para fazer com que a vítima sinta que não merece atenção ou consideração. A princípio, esses abusos não são percebidos até tornarem-se frequentes a ponto da vítima se sentir culpada pelos problemas no relacionamento.
Apesar desse cenário de vulnerabilidade e sofrimento, é surpreendente perceber que o vínculo entre os dois é complementar. O comportamento do agressor tem raízes na infância, pois vem de lares onde essa forma de relacionamento era habitual, aprendendo, inconscientemente, a se relacionar dessa maneira. A vítima, por sua vez, também cresceu em ambientes onde relações de abusos eram comuns, o que a tornou suscetível a se envolver nesse padrão.
O fato é que, em relacionamentos saudáveis, a comunicação desempenha um papel de destaque, pois há um entendimento do casal de que expressar as ideias e sentimentos é fundamental para o equilíbrio da relação. Claro que é importante salientar que há momentos entre um casal em que o silêncio significa uma escolha válida para reflexão pessoal. No entanto, é preciso observar os sinais, pois quando o silêncio é usado de maneira repetitiva, como mencionado acima, pode ser considerado uma forma de abuso emocional.
Fazer de conta que nada está acontecendo não é a solução. Reconhecer que está em um relacionamento abusivo é o primeiro passo para começar a recuperar a autoestima, aprendendo que o amor é uma via de mão dupla.
A troca de argumentos, ao invés da imposição, está diretamente ligada à maturidade emocional individual, e isto inclui empatia e respeito pelo outro, além da vontade de fazer o relacionamento dar certo. Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga.

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