Mãos que realizam sonhos: pequeno Benício tem rotina transformada ao ganhar prótese 3D de centro universitário, em Presidente Prudente


Criança foi diagnosticada com a Síndrome da Brida Amniótica ainda na gestação, o que resultou na má-formação do braço esquerdo, mas isso não a impediu de se tornar ativa. Benício Henn da Silva Blaia, de quatro anos, recebeu a prótese de um centro universitário de Presidente Prudente (SP)
Toledo Prudente
“Sensação de gratidão por ver a felicidade no rostinho dele”. Assim é descrito por Carina da Silva o momento em que o filho, Benício Henn da Silva Blaia, de apenas quatro anos, colocou a prótese de membro superior desenvolvida por um centro universitário de Presidente Prudente (SP) e viu sua rotina se transformar.
O pequeno foi diagnosticado com a Síndrome da Brida Amniótica na 24ª semana de gestação da mãe, o que resultou na má-formação do bracinho esquerdo, mas isso não o impediu de se tornar uma criança ativa, amorosa e querida por todos.
Desde a descoberta, Carina começou a buscar informação e a fazer acompanhamento com pediatra e terapeuta ocupacional, momento em que foi iniciado um trabalho de desenvolvimento do membro. As primeiras conversas a respeito da prótese tiveram origem nas sessões de fisioterapia do Ambulatório Médico de Especialidades (AME), onde a criança é assistida.
“Eu faço parte de uma associação chamada Dar as Mãos, e ela também faz esse tipo de prótese. Mostrei para a terapeuta do Benício e ela ficou sabendo que, em Presidente Prudente, uma faculdade teria essa máquina 3D. Foi aí que começamos a nos informar se seria possível evoluir a prótese para ele”, lembrou.
Benício Henn da Silva Blaia, de quatro anos, de Presidente Prudente (SP)
Acervo pessoal
Ainda segundo a mãe, desde pequeno, a terapeuta ocupacional já previa que o garoto, mais cedo ou mais tarde, necessitaria da prótese, já que, por conta da postura, ele estava começando a desenvolver uma escoliose.
O contato com a coordenadora do curso de fisioterapia da Toledo Prudente, Alessandra Madia Mantovani Fabri, ocorreu entre o fim de 2022 e o início de 2023. Desde então, a mãe viu o tão sonhado projeto saindo do imaginário e ganhando vida nas dependências do Laboratório Maker, situado no campus.
“Nas disciplinas, procuramos trabalhar com resolução de problemas de forma inovadora e tecnológica, geralmente por meio de casos clínicos. Em contato com uma equipe multidisciplinar externa com que já havíamos trabalhado antes, chegamos ao Benício, que, embora seja assistido por diferentes terapias, ainda não era habilitado para protetização convencional devido a sua idade”, ressaltou ao g1 a fisioterapeuta e professora.
Carina da Silva acompanhou todo o processo que levou o filho Benício, de quatro anos, a receber a prótese de um centro universitário de Presidente Prudente (SP)
Toledo Prudente
Do papel ao braço ✨
Para dar vida ao desejo de proporcionar ao pequeno mais autonomia, além da coordenadora, participou do projeto o técnico do Laboratório Maker do centro universitário, Vitor Rodolfo Cicilio de Barros. Durante o processo, alguns desafios foram superados pela equipe, como, por exemplo, o ajuste dos dedos da mão esquerda, que ficaram curtos no primeiro teste.
“Inicialmente, o objetivo era criar uma prótese estética não articulada. No entanto, durante a minha pesquisa, encontrei um projeto adequado para o caso dele. Realizamos a primeira coleta de medidas utilizando um sensor de videogame para criar um modelo 3D do Benício. Com esses dados, fizemos modificações na modelagem da prótese para um ajuste mais preciso. Após a primeira prova, encontramos outros pontos a serem modificados”, lembrou Barros ao g1.
Benício junto à mãe, Carina, e ao padrasto, Vinícius
Acervo pessoal
Da idealização à entrega da prótese, foram necessários seis meses, que vieram acompanhados de leituras de artigos científicos, incontáveis horas de modelagem 3D e estudos sobre mecânica e tipos de próteses disponíveis no mercado.
“Como é um projeto bem complexo e com uma criança envolvida, não poderíamos fazer várias provas, então, os testes eram feitos aqui mesmo, no centro universitário, onde tínhamos que tentar recriar o movimento da mão para pegar os objetos”, afirmou o técnico.
Além de avaliações físicas e funcionais com o escaneamento em 3D, a equipe buscou referências que apontassem caminhos custo-eficientes, processo facilitado pelo fato de o centro universitário possuir aparatos necessários à produção.
“A prótese foi pensada para aumentar a funcionalidade da criança no seu dia a dia, mas, sobretudo, para agradá-la, pois esperávamos que ela estivesse feliz por usá-la […]. Como já utilizamos a impressão 3D em nosso centro universitário, foi um caminho prático e barato para conseguirmos atingir nosso objetivo”, destacou a coordenadora.
Benício Henn da Silva Blaia, de quatro anos, recebeu a prótese de um centro universitário de Presidente Prudente (SP)
Toledo Prudente
E já que várias mãos trabalham melhor do que uma, alunos do curso de fisioterapia também participaram ativamente do processo, por meio da disciplina acadêmica Prótese, Órtese e Tecnologia Assistiva.
A identificação com a causa foi o que motivou a aluna do 8º termo do curso, Beatriz Cristina Silva Betoni, a não só abraçar a ideia como transformá-la em um projeto de extensão universitária. Ao g1, a estudante revelou que é apaixonada pela área devido à possibilidade que ela oferece de devolver uma vida mais funcional aos pacientes.
“Eu sempre gostei de coisas diferentes, inovadoras e que pudessem fazer a diferença no mundo, e o centro universitário possibilita que nós possamos fazer isso, nos dando liberdade e autonomia para desenvolver esse tipo de projeto. Ver que algo que eu contribuí para acontecer mudou o dia a dia de uma criança, e provavelmente o futuro dela também, me deixa extremamente feliz, realizada e grata”, enfatizou a futura fisioterapeuta.
Na 24ª semana de gravidez, a mãe de Benício descobriu que a criança havia sido diagnosticada com a Síndrome da Brida Amniótica
Acervo pessoal
‘Criança livre’ 🤸‍♂️
Foram mais de oito horas de trabalho até o resultado final da peça, que tem em sua composição filamentos de plástico, fios de nylon e elástico ortodôntico. Após várias mediações e tentativas de elaborar um produto que se encaixasse física e funcionalmente à criança, a prótese em 3D foi finalizada e entregue ao Benício.
“A sensação do Benício foi de realização, de felicidade por ter um membro robótico que permitiu a ele conseguir pegar objetos e até mesmo segurar um copo. Ficamos muito felizes”, observou a mãe.
Agora, inicia-se a fase de testes práticos, na qual a participação da família será essencial para fornecer feedbacks sobre a adaptação de Benício à prótese nas atividades diárias. O menino também será acompanhado por uma equipe técnica, que irá avaliar o desempenho da peça, com o objetivo de aprimorá-la.
“Com base nesses feedbacks, poderemos fazer ajustes adicionais na prótese, se necessário, para garantir um melhor desempenho e maior conforto para o Benício. A colaboração da Carina e da equipe nos ajudará a aperfeiçoar ainda mais o projeto e fornecer uma solução personalizada e eficaz para as necessidades específicas dele”, ressaltou o técnico Vitor Barros.
Mãe relatou que o filho, mesmo antes da prótese, sempre realizou tarefas básicas diárias
Acervo pessoal
Ao g1, a mãe disse que a síndrome nunca impediu Benício de ser uma criança livre e realizar tarefas básicas, como ir ao banheiro, trocar de roupa ou tomar banho. Agora, com o braço mecânico, a família começou a trabalhar com ele a adaptação ao novo membro do corpo.
“Eu nunca impedi o Benício de fazer nada, mas ele é tão tranquilo que não questiona. Uma vez, quando perguntou, falei que papai do céu mandou ele com um bracinho lindo. Agora que estamos trabalhando com ele essa questão”, reforçou.
Benício e o irmão mais novo, Lucca Vinícius, de três anos
Acervo pessoal
A coordenadora do curso de fisioterapia confessou que, em princípio, o processo foi delicado, já que a equipe envolvida estava lidando com as expectativas de uma criança que nasceu sem parte do braço e tinha uma vida muito feliz assim.
“Nossa responsabilidade era muito grande. Quando o primeiro modelo não deu certo, foi muito triste para ele e todos nós. Mas, agora, ver o sorriso dele quando coloca a prótese nos deixa muito felizes e dá motivação para acreditar que todos os profissionais devem buscar soluções inovadoras para seus pacientes”, concluiu.
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